Continuando a lista dos filmes
mais marcantes do cinema brasileiro em 2015, vamos prestigiar um cinema
independente, criativo e divertido que retrata grandes histórias com uma
gigantesca gama de tramas interessantíssimas.
O Sal da Terra
Wim Wenders dirigindo um
documentário sobre Sebastião Salgado. É difícil imaginar que isso possa dar
errado. E, realmente, não deu. O Sal da Terra é um retrato raro e muito pessoal
do fotógrafo brasileiro. O diretor por trás de obras primorosas como Paris,
Texas, Asas do Desejo, Buena Vista Social Club e, mais recentemente, Pina,
conseguiu capturar o espírito de Salgado e sua obra.
Amor, Plástico e Barulho
A história da estrela que é
objeto de admiração e inveja por parte de uma novata em busca da fama já foi
contada diversas vezes no cinema, sendo a mais famosa delas em A Malvada, com
Bette Davis e Anne Baxter. Mas a história nunca foi contada como em Amor,
Plástico e Barulho. A premissa é a mesma, mas a diretora e roteirista Renata
Pinheiro mergulha em um universo desconhecido pelo grande público e não abre
mão de debater questões sociais, como é o casa da especulação imobiliária, tema
muito presente no cinema pernambucano nos últimos anos.
Ponte Aérea
Paris na França, Nova York nos
Estados Unidos, Berlim na Alemanha. Vários são os países que possuem cidades
tão emblemáticas que, bem ou mal, tornam-se uma espécie de cartão de visitas ao
redor do planeta. O Brasil, país continente, possui duas: Rio de Janeiro e São
Paulo. Cidades tão próximas e tão distintas, no modo de ser e de viver, com
peculiaridades que, muitas vezes, acirram a rivalidade local. Ponte Aérea, novo
filme da diretora Julia Rezende (Meu Passado Me Condena), pretende abordar tais
diferenças sob outro ponto de vista: o do amor.
Branco Sai, Preto Fica
A Cidade é uma Só? é o título do
filme anterior do diretor Adirley Queirós, mas também é uma pergunta que o
diretor continua a fazer. A segregação da periferia em Brasília ainda é algo
que instiga o cineasta e isso fica muito claro neste novo projeto, Branco Sai Preto
Fica.
Orestes
Orestes é um documentário que
investiga a justiça. Para ser mais exato, ele ostenta a ampla ambição de
investigar o conceito de justiça, sua aplicação ontem e hoje, suas
consequências psicológicas e, de certo modo, a fabricação da noção de moral no
Ocidente desde a filosofia e a literatura gregas - de onde sai o mito de
Oréstias, motor narrativo do filme. É uma ambição gigantesca, que o diretor
Rodrigo Siqueira ataca com vigor e com senso de representatividade.
Operações Especiais
Não tem jeito: seja pela
importância histórica ou pelo impacto das imagens registradas pela televisão, a
invasão do Complexo do Alemão pela polícia do Rio de Janeiro é um prato cheio
para o cinema. Sob os mais diversos aspectos, do psicológico ao social. De olho
na diversidade de gêneros, o diretor Tomás Portella (Qualquer Gato Vira-Lata e Isolados)
resolveu explorar o tema em um filme de ação. Mais ainda: a partir da
implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), abordou a sensível
questão da honestidade da polícia e seu impacto perante a sociedade, além do
papel da mulher dentro deste gigantesco mecanismo criado para, teoricamente,
garantir a paz às comunidades. Esta é a ousada proposta do competente e
didático Operações Especiais.
Beira-Mar
Este drama parte da notável
vontade de tratar a adolescência e a sexualidade a partir de uma combinação
dosada de leveza e seriedade, de realismo e estetismo. Assim, Beira-Mar se
apoia na beleza do cotidiano, na poesia dos dias simples e nublados.
Romance Policial
O texto é o mocinho de Romance
Policial, novo longa do diretor Jorge Duran. E é também o vilão. Escrito pelo próprio
Duran (vale lembrar que, parceiro profissional de Hector Babenco, ele é autor
do roteiro de filmes importantes, como O Beijo da Mulher-Aranha e Pixote - A
Lei do Mais Fraco), com a produção, o chileno radicado no Brasil volta ao seu
país natal para retomar também um tema que tem ganhado cada vez mais
importância na sua filmografia independente como diretor, a inquietude juvenil.
O Duelo
É uma obra convencional que,
paradoxalmente, porém, faz um bom uso de efeitos especiais, bem convincentes,
fundamentais para dar conta das reviravoltas e acidentes (meteorológicos,
inclusive) pelos quais o personagem passa, conduzindo o espectador para um
final surpreendente. Afinal, depois da tempestade, sempre vem a bonança.
A Estrada 47
Seja pela facilidade em definir
um vilão e justificar o porquê de enfrentá-lo, a Segunda Guerra Mundial é um
evento constantemente revisitado pelo cinema, tanto por vencedores quanto pelos
vencidos. Entretanto, poucos são os filmes que retratam a participação
brasileira no conflito. Por mais que a presença da Força Expedicionária
Brasileira não tenha sido tão determinante quanto a das tropas dos principais
países envolvidos, ainda assim foram 25 mil brasileiros enviados para o front,
com centenas de histórias interessantes e reveladoras. Uma delas está no impressionante
A Estrada 47, novo filme do diretor Vicente Ferraz (Soy Cuba - O Mamute
Siberiano), que chega ao circuito quase dois anos após sua exibição no Festival
do Rio 2013.
O Vendedor de Passados
Talvez O Vendedor de Passados se
perca na ambição pueril de ser mais inteligente que seu espectador, de estar
sempre um passo à frente. Se permitisse aos personagens explorarem todas as
consequências dos novos passados, poderia ir muito longe. O resultado final é
algo intermediário entre uma boa ambição discursiva e uma realização pouco
expressiva de Lula Buarque de Hollanda, que se contenta em planos fechados, uso
frágil dos espaços e das elipses. Uma premissa excepcional como esta mereceria
maior ousadia estética e narrativa, mas o resultado final não deixa de ser
agradável.
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